Frutas  que contêm poderosos agentes anti-inflamatórios e antioxidantes

De acordo com um estudo apoiado pela Fundação de Pesquisa de São Paulo, cinco árvores frutíferas nativas da Mata Atlântica possuem poderosas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
A pesquisa afirma que as espécies brasileiras nativas araçá-piranga ( E. leitonii ), cereja -do-rio-grande ( E. involucrata ), grumixama ( E. brasiliensis ) e ubajaí ( E. myrcianthes ) - todas do gênero Eugenia - e bacupari-mirim ( Garcinia brasiliensis ) são exemplos de alimentos funcionais que, além de vitaminas e valores nutricionais, possuem propriedades bioativas, como a capacidade de combater os radicais livres - átomos instáveis ​​e altamente reativos que se ligam a outros átomos no organismo e causam danos, como o envelhecimento celular ou a doença.
"Sabíamos que eles poderiam conter um grande número de antioxidantes, assim como as frutas bem conhecidas dos EUA e da Europa, como o mirtilo, amora e morango, com os quais os cientistas são tão familiares", disse Severino Matias Alencar, do Departamento de Agroindústria, Alimentação e Nutrição do Colégio Agrícola Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP) - a instituição realizou a pesquisa em parceria com a Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade de Campinas (FOP-UNICAMP) - tanto em Piracicaba, Estado de São Paulo, Brasil - e na Universidade da Fronteira (UFRO) em Temuco, Chile. "Nossas bagas nativas provaram ser melhores ainda".
Pedro Rosalen, da FOP, diz que a dieta é estratégica no combate aos radicais livres. Embora o nosso corpo contenha substâncias que neutralizem e eliminem os radicais livres, esta neutralização natural pode ser desequilibrada por meio de idade, estresse e alimentação fraca. "Se assim for, são necessários elementos exógenos, particularmente a ingestão de alimentos com agentes antioxidantes, como flavonoides ou antocianinas de araçá-piranga, E. leitonii e outras frutas das Eugenias", disse Rosalen, coordenadora do projeto " Bioprospecção de novas moléculas anti-inflamatórias de produtos nativos naturais brasileiros.
Não só os antioxidantes combatem o envelhecimento, mas também trabalham na prevenção de doenças mediadas pela inflamação crônica, explica Rosalen. "A ação oxidativa dos radicais livres leva ao aparecimento de doenças inflamatórias dependentes, como diabetes, câncer, artrite, obesidade e doença de Alzheimer. Estas são inflamações silenciosas, daí a importância dos antioxidantes".
O estudo avaliou os compostos fenólicos - produtos químicos que podem ter efeitos preventivos ou curativos - e os mecanismos anti-inflamatórios e antioxidantes do material extraído das folhas, sementes e celulose de cinco frutos.
O projeto estudou frutas com forte atividade antioxidante - para uso das indústrias alimentar e farmacêutica - e com propriedades anti-inflamatórias. O destaque foi E. leitonii, como Rosalen destacou.
"E. leitonii é uma espécie em extinção", disse Rosalen. "Sua atividade anti-inflamatória ultrapassou em muito a de outras Eugenias. O mecanismo de ação também é extremamente interessante. Ele ocorre espontaneamente e logo no início da inflamação, bloqueando uma via específica no processo inflamatório. Também atua no endotélio do sangue vasos, impedindo que os leucócitos transmigrem para o tecido danificado e reduzindo a exacerbação do processo inflamatório ".
Como essas espécies são cada vez mais raras e algumas são classificadas como ameaçadas, as amostras para o estudo foram fornecidas por duas pequenas fazendas no interior do Estado de São Paulo. Ambos vendem plantas com objetivos de conservação. Um dos agricultores possui a maior coleção de frutos nativos do Brasil, com mais de 1.300 espécies cultivadas.
Rosalen acrescenta que o Brasil tem cerca de 400 Eugenias, incluindo várias espécies endêmicas. "Temos um enorme número de árvores frutíferas nativas com compostos bioativos que podem beneficiar a saúde das pessoas. Eles devem ser estudados", disse ele.
Alencar acredita que é uma questão de tempo até que estes frutos sejam altamente classificados como alimentos de moda. O cientista afirma que eles têm um vasto potencial econômico e farmacológico, evidenciado não só por muitas publicações científicas, mas também pelo comércio de suas frutas comestíveis, madeira e óleos essenciais e seu uso como plantas ornamentais.
"Não houve muito conhecimento científico sobre as propriedades desses frutos nativos. A idéia agora, com os resultados do nosso estudo, é que eles sejam cultivados por agricultores familiares, aumentem a escala de produção e sejam ocupados pelos varejistas. Quem sabe, eles poderiam ser o próximo açaí ", disse Alencar, referindo-se ao sucesso comercial da baga amazônica Euterpe oleácea com grandes quantidades de antioxidantes. O Brasil exporta purê de açaí para vários países.
O projeto de pesquisa colaborativo apoiado pela FAPESP e UFRO também ampliou o conhecimento de uma espécie nativa chilena. Em um estudo, os pesquisadores demonstraram a ação antioxidante e vasodilatadora da goiaba chilena (Ugni molinae) - os suplementos alimentares obtidos a partir das frutas e folhas da goiaba chilena podem ter efeitos benéficos na prevenção e, possivelmente, no tratamento de doenças cardiovasculares.
Se o conhecimento dessas propriedades for disseminado, a produção de espécies de frutos nativos poderia ser estimulada, destacou Alencar.
"Mesmo antes do projeto com a UFRO, Rosalen e eu já estudamos espécies de frutos nativos porque acreditamos que elas poderiam ser uma fonte de soluções de alimentos excelentes para a sociedade", disse ele.

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